quinta-feira, 11 de outubro de 2012

CONHEÇA MELHOR A GIARDÍASE

Dra. Priscila do Amaral Fernandes

 
Taxonomia
Reino Animal
 Filo Protozoa
  Subfilo Sarcomastigophora
   Classe Mastigophora
    Ordem Polimastigorida
     Família Hexamitidae
      Gênero Giardia
       Espécie Giardia lamblia, Stiles 1915.

Morfologia
      O corpo é piriforme com simetria bilateral; possuem 8 flagelos e produzem cistos. Morfologicamente as giárdias dos mamíferos são muito semelhantes e atualmente considera-se somente uma espécie com diferentes hospedeiros.
      A forma vegetativa mede de 10 a 20 micra de comprimento por 5 a 15 de largura e seus cistos medem 8 a 14 micra de comprimento por 6 a 10 micra de largura.

Biologia
      A Giardia alimenta-se das substâncias líquidas do meio intestinal. O poder de adesão das ventosas é suficiente para impedir que sejam arrastadas pelos movimentos peristálticos, daí serem encontradas, praticamente, apenas em fezes líquidas ou semilíquidas.
      A taxa de produção é de divisão binária a cada 12 horas, sendo um trofozoíto capaz de se tornar 1 milhão em 10 dias e mais de 1 bilhão em 15 dias. Estes formam cistos.
      O cisto é o elemento infectante, geralmente eliminado sob a forma de cistos multinucleados, nos quais os flagelos podem ser visíveis ocasionalmente como trofozoítas nas fezes. Os cistos são encontrados em fezes formadas, são ovóides, resistentes, e em indivíduos recentemente infestados, podem-se ver os flagelos movendo-se dentro dos cistos. Vistos a fresco são muito transparentes e os núcleos se situam em um dos pólos do cisto. Já os trofozoítas são menos freqüentes a menos que o animal apresente diarréia aquosa profusa.
      O número de cistos nas fezes, em casos de infecções médias, varia de 300 milhões a 14 bilhões. Sua eliminação por um indivíduo infectado não é constante; eles desaparecem das fezes por períodos dilatados de 7 a 10 dias, denominados fases ou períodos negativos.

Transmissão
      Dá-se a transmissão da Giardia por intermédio de alimentos ou bebidas contaminados por cistos do flagelado. Se transmite facilmente pela água e seus cistos podem conservar sua vitalidade no meio exterior durante cerca de 60 dias; morrem à temperatura de 64oC. Fervura e filtração têm provado ser efetivos na eliminação dos cistos das fontes de água. O período de incubação é em média de 13 dias.
      O cistos são ingeridos bebendo água contaminada de córregos, poças ou até piscinas. Outra maneira de infecção inclui lamber pêlos contaminados e consumo de presas contaminadas.
      Os cistos podem se disseminarem pelas fezes de baratas que expelem, em suas dejeções, cistos viáveis de Giardia até sete dias após a alimentação, bem como disseminá-los por regurgitamento do material ingerido.

Epidemiologia e distribuição
      A Giardia é um parasito cosmopolita e é encontrado parasitando mamíferos desde a tenra idade. Adultos são menos infectados pois, freqüentemente, o parasita estimula o desenvolvimento de certo grau de resistência.
      Por causa das limitações técnicas e clínicas, giardíase continua sendo uma das mais erroneamente diagnosticadas e subestimadas de todas as doenças infecciosas dos animais. Por isso esta doença é também conhecida como "Doença Misteriosa".
      Todas as evidências sugerem que Giardia é zoonótica e estudos em laboratórios veterinários mostram que quase 80% dos exames de fezes em cães e gatos são positivos para Giardia, sendo, 10% em animais bem tratados, 36% a 50% em filhotes e mais de 100% em animais de abrigos, canis e gatis.

Habitat, patogenia e sintomatologia
      Acredita-se que a maioria das infecções por giárdia seja subclínica e autolimitantes, especialmente em animais adultos. Todavia a giardíase clínica é grave em animais jovens.
      É encontrado em toda a extensão do intestino delgado proximal. Os cistos são encontrados principalmente no duodeno no cão, e no jejuno e íleo no gato. Geralmente se desenvolve em associação com outros agentes patogênicos, mas milhares de trofozoítas de giárdia nas criptas duodenais, inseridas às células por meio de seus discos sugadores, podem produzir irritação superficial ou agravar uma condição inflamatória existente, ocasionando, assim, diarréia crônica. Parasitas em grande número à mucosa duodenal, interferem na absorção de gorduras que normalmente se processa neste nível, o que levará o paciente à deficiência de vitaminas principalmente das lipossolúveis. A presença de grande quantidade de gorduras não absorvidas no intestino, acarretará síndrome diarréica persistente (esteatorréia), podendo determinar inflamação catarral do duodeno.
      Quando infectados, cães e gatos podem apresentar vários sintomas, variando de febre, vômitos atingindo diarréia severa, desidratação e perda de peso, que nem sempre são sintomas óbvios para os proprietários.
      As manifestações clínicas são perturbações dolorosas para o lado hipocôndrio direito e quando os parasitas se localizam no duodeno a sintomatologia caracteriza-se pelo aparecimento de fenômenos dolorosos no epigástrio, simultaneamente a perturbações do tipo dispéptico, e que já traduzem a enterite, outra forma clínica da parasitose. As fezes diarréicas, apresentam-se líquidas, ou então moles, com a consistência de mingau, muito fétidas, às vezes de coloração esverdeada.
      Animais assintomáticos podem continuar a eliminar cistos viáveis, colocando em risco outro animal ou pessoa.

Diagnóstico
      Quando o animal é apresentado ao veterinário com diarréia, a causa é, muitas vezes, difícil de diagnosticar. Trofozoítos podem ser observados num exame de fezes direto corado com solução de lugol, mas não é confiável quando os parasitas são poucos e sua eliminação é intermitente. Contudo, o exame de fezes negativo não descarta a infecção por giardíase.
      As técnicas de flutuação com sulfato de zinco apresentam melhores resultados quando em conjunto com 5 minutos de centrifugação (método de Faust), e as fezes devem ser colhidas por 3 dias consecutivos e armazenadas em geladeira em recipiente com conservante adequado (MIF), para garantir a eliminação de cistos. Em uma amostra bem colhida pode-se observar cistos em preparação direta com salina a 9% e até mesmo pelo método de Ritchie (sedimentação por formol e éter + centrifugação).
      Existe um teste de ELISA desenvolvido nos Estados Unidos que detecta nas fezes o antígeno através de anticorpos específicos para a proteína que é secretada constantemente durante a infecção.
      Outros testes mais incomuns incluem exame de aspirado duodenal e biópsia intestinal, mas ambos têm problemas práticos e econômicos.

Tratamento
      O medicamento de escolha é o metronidazol (hidroxi-etil-metil-nitroimidazol), na dose de 15 a 20 mg/kg durante 7 a 10 dias consecutivos, convindo repetir o tratamento após 1 a 2 semanas de intervalo. Nos Estados Unidos duas outras drogas são consideradas efetivas no tratamento de giárdia: Cloridato de quinacrina e furazolidona. A furazolidona, do grupo dos nitrofuranos, pode ser usada administrando-se 4 doses de 50 mg por dia, durante uma semana para animais acima de 20 kg e doses proporcionais para animais menores.
      Utilizando a preparação líquida de tinidazol, em dose única de 50 mg/kg, obtém-se 92% de curas, sem efeitos colaterais.
      Igualmente a nitrimidazina e o nimorazol têm fornecido bons resultados.
      Mais recentemente, estudos mostraram que pamoato de pirantel febantel e praziquantel administradas em comprimidos contendo 144 mg de pamoato de pirantel, 150 mg de febantel e 50 mg de praziquantel, oferece igualmente 92% de curas.
      O objetivo terapêutico é eliminar a infecção, os sinais clínicos e parar com a eliminação de cistos, mas às vezes os tratamentos não removem os trofozoítos do intestino ou apenas inibem temporariamente a passagem do cisto. Infelizmente tratamentos terapêuticos não garantem sucesso, pois não previnem novas infecções, pois futuras exposições repetidas a Giardia não são afetadas por intervenção terapêutica. Ocasionalmente pode ser necessário repetir este procedimento, aumentar a dosagem ou utilizar outro medicamento.

Profilaxia
      A profilaxia da giardíase é de difícil execução, pois depende não só do tratamento da matéria fecal e do lixo, como ainda da proteção da água potável. Mesmo nos países de boa higiene pública, são em grande número os mamíferos infectados. As reinfestações são constantes e todo o material fecal das ruas deveria ser prontamente removido, o que não se torna fácil o controle, pois limitará apenas a contaminação ambiental.
      Os cistos são inativados pela maioria dos compostos de amônio quaternário, água sanitária, vapor e água fervente.

Fotos
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Bibliografia
  1. PESSÔA S.B. & MARTINS A. V. Parasitologia Médica. 11ª ed. Editora Googan,1982.
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  6. ETTINGER, S.J. Manual de Medicina Interna Veterinária. Manole: São Paulo, 1996. 1011 p.
  7. URQUHART, G.M. et al. Parasitologia Veterinária. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 1990. 306 p.

   


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